Iniciativa sustentável | Parcerias por um ciclo ecológico completo

Produtores participantes da Rede Povos da Mata recebem orientações sobre o cultivo de alimentos orgânicos

Em um extremo, famílias de agricultores que não conseguem certificar nem escoar suas produções. Em outro, o consumidor interessado em opções ecologicamente confiáveis e que possam verdadeiramente contribuir para um mundo melhor. No meio de tudo isso, questões de logística, emissão de poluentes, preservação ambiental, etc. Parece distante e utópico, mas um caminho para fechar esse ciclo cheio de desafios está sendo construído aqui na Bahia.

O sonho de criar parcerias locais e de suprir a demanda por alimentos agroecológicos fez do Instituto Inkiri (e seu centro holístico com cerca de 2 mil visitantes anuais) um dos articuladores deste ciclo ecológico ao lado do Movimento Mecenas da Vida (Organização Não-Governamental que atua com a compensação do CO2) e da Rede de Agroecologia Povos da Mata Atlântica – o primeiro organismo participativo baiano de avaliação da conformidade da qualidade orgânica. A partir de um sonho, Inkiri Piracanga vem se tornando um dos elos nestas relações.

“Estamos em um momento de criar parcerias locais levando em conta determinadas demandas que temos. Para isso, estamos em busca de fechar um ciclo ecológico completo”, afirma Juliana Faber, articuladora do movimento dentro do Instituto Inkiri.

O passo a passo das conexões do ciclo

Janaína Riccioppo e Juliana Faber (Inkiri Piracanga) ao lado do pessoal do Movimento Mecenas da Vida, Luiz Fernando Vieira Pozza, Salvador Ribeiro da Silva, Tiago Tombini da Silveira e Denis Bianchi

O primeiro passo de Inkiri Piracanga para transformar esse sonho em realidade foi receber a visita da ONG Mecenas da Vida, que atua há 8 anos com a compensação de CO2. A ONG calcula a pegada ecológica de estabelecimentos turísticos e chega a um valor a ser pago para equilibrar esse impacto. O recurso – pago pelos visitantes – é revertido em uma bolsa-conservação de R$ 300,00 aos agricultores que vivem em florestas da região. Para receber o benefício, essas famílias assumem compromissos socioambientais, como:

  • Conservar os remanescentes florestais das suas propriedades;
  • Reflorestar suas áreas desmatadas;
  • Adotar práticas agrícolas conservacionistas;
  • Não caçar, nem utilizar fogo para limpeza das roças;
  • Matricular seus filhos na escola, e preservá-los do trabalho pesado da roça;
  • Participar das capacitações oferecidas, semanalmente, pela equipe de campo da ONG.

Enquanto os agricultores se tornam protagonistas da conservação ambiental e têm a possibilidade de sair da situação de vulnerabilidade social, os visitantes recebem um cartão de descontos para ser utilizado em estabelecimentos parceiros. A rede Turismo CO2 Legal engloba empresas e negócios de Itacaré, Serra Grande e Taboquinhas.

“A taxa média paga pelo visitante é de R$ 10,00 em qualquer lugar do Brasil e, com o cartão, ele tem a possibilidade de receber cerca de R$ 30,00 de descontos na rede participante em uma única semana”, explica Juli.

Assim, Inkiri Piracanga – com seus 2 mil visitantes anuais e apesar de sua pegada ecológica baixíssima – poderá gerar ao menos quatro bolsas-conservação por mês para agricultores da região. Este é um movimento que ainda está no início, mas a estrada para chegar ao ciclo completo vai muito além disso. “Queremos que os agricultores beneficiados sejam fornecedores já ligados à Inkiri Piracanga e também que tenham certificação de produtos orgânicos”, diz Juli.

Cooperação e alimentos agroecológicos certificados

Neste ciclo, os consumidores viram co-produtores que estimulam a produção de alimentos orgânicos

Elo fundamental deste ciclo, a Rede Povos da Mata Atlântica é um Opac (Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade) autorizado pelo Ministério da Agricultura. Nela, todos os participantes tomam conta de todos com o intuito de garantir a qualidade orgânica.

“A certificação orgânica no Brasil é de difícil acesso, além de ser privada e pouco acessível aos pequenos produtores”, afirma Juli. “Já a certificação participativa garante o suporte de uma rede, com orientação, apoio técnico e até a articulação de logística e venda. Essa é uma possível solução para vários desafios enfrentados pelos agricultores. E nós queremos estimular os produtores a participarem desse movimento”, comemora.

A rede ainda sustenta entrepostos que facilitam a distribuição dos produtos. Essas Estações Orgânicas, como são chamadas, criam circuitos mais curtos para a distribuição dos produtos, reduzindo também o número de intermediários desta relação. “Isso também é uma parte importante do ciclo porque o alimento é consumido no mesmo lugar que é produzido”.

De acordo com Juli, um passo mais profundo ainda pode ser dado entre estas parcerias. “Queremos também que os nossos parceiros locais cumpram o critério de somente usar produtos biodegradáveis em suas propriedades. Estamos há dois anos dialogando neste sentido e este movimento começaria pela Península de Maraú”, destaca.

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