Missão Caubi | Vamos brincar de mudar o mundo?

Crianças do povoado do Caubi brincam em balanços feitos com as próprias mãos e com ajuda dos jovens da Uni e do YIP

E se brincar fosse uma maneira de mudar o mundo?! Tem gente acreditando nisso e levando o assunto muito a sério! Inspirados pelo arquiteto e urbanista Edgard Gouveia Jr, os alunos da Uni (Universidade Viva Inkiri) e do YIP (Youth Initiative Program – Suécia) receberam a missão de estimular os moradores do povoado do Caubi, que fica pertinho de Inkiri Piracanga, a unirem forças e a arregaçar as mangas juntos para correrem atrás de seus próprios sonhos. O resultado foi surpreendente e transformador, além de muito divertido.

Em menos de 15 dias, os jovens que participaram do programa de formação em Inkiri Piracanga se reuniram com os moradores, agitaram o povoado em uma grande gincana, estimularam reflexões sobre os sonhos individuais e coletivos e os motivaram a realizar esses sonhos de um jeito que fosse rápido, divertido e sem colocar a mão no bolso.

A iniciativa também faz parte das ações sócio-ambientais do Instituto Inkiri, com o intuito de contribuir para o desenvolvimento das comunidades ao redor de Piracanga.

Hoje, cerca de 300 pessoas vivem no Caubi, um povoado com mais de 50 anos de existência, que fazia parte de uma fazenda da região e agora é vinculado ao município de Maraú. Lá, tem pouco espaço de lazer tanto para as crianças quanto para os adultos e algumas questões estruturais ainda são muito relevantes.

“Levamos essa ideia de brincar com a população local para o Caubi com o intuito de fazer as comunidades se conhecerem melhor”, explica Pedro Henrique Ferreira Lopes, participante da Uni. “Assim, tivemos jogos, danças, palhaços, brincadeiras, reuniões e pudemos conhecer os sonhos de cada um”.

Para os moradores, alguns desses sonhos poderiam elevar a qualidade de vida das pessoas, como:

  • Melhorar o abastecimento de água do povoado;
  • Reativar o campo de futebol;
  • Construir um parquinho para as crianças;
  • Criar um espaço cultural para eventos e convivência dos moradores.

POVOADO DO CAUBI EM MOVIMENTO

Ao identificar esses pontos, as transformações começaram imediatamente. “Tivemos uma reunião com os moradores e eles mesmo chamaram representantes da prefeitura para participar. Ao levantarmos as questões, vimos que o problema de abastecimento de água era o pronto principal”, destaca Pedro. “Dois dias depois, a prefeitura anunciou a compra das mangueiras que seriam necessárias para suprir essa demanda. Ou seja, o problema seria resolvido”, comemora.

Daí para a frente foi só alegria. Segundo Adelino Oliveira Cerqueira, morador do Caubi, os jovens fizeram uma grande festa ao agitarem a gincana que envolveu crianças de todas as idades. “Aconteceu uma coisa que nunca tinha acontecido aqui”, afirma Adelino. “Tivemos muita integração e todo mundo entrou na brincadeira”.

Gincana agitou o Caubi e foi apenas uma “desculpa” para realizar sonhos da população local

Na gincana, os participantes de duas equipes tiveram que cumprir desafios como buscar o maior número de calçado do povoado; a maior fruta; a coisa mais estranha; e trazer o melhor cantor local. “Esse foi o momento do Caubi olhar para si e se apresentar”, diz Pedro. “Isso foi surpreendente e muito emocionante”.

Com a gincana empatada, o jeito foi chamar a prova final: quem dança melhor o “arrocha”. “Aí foi uma grande diversão e todo mundo participou. Teve uma mulher que foi em casa buscar o marido para dançar”, recorda Pedro.

Mas, para realizar essa festa toda, não foi fácil assim. “Muitos moradores não queriam se envolver. Inicialmente, gerar interesse foi a maior dificuldade que tivemos. Então, chamei o Matheus para me ajudar”, diz o participante da Uni apontando para um menino de 8 anos.

CRIANÇAS E JOVENS COMO AGENTES DE MUDANÇAS

Matheus ajudou a organizar a gincana e virou um agente de mobilização dos adultos

Matheus Santos Silva, que já estava totalmente envolvido com as brincadeiras, aceitou o convite. “Achei legal quando o Pedro me chamou para ajudar a organizar uma gincana. Aí eu chamei os meus amigos e todos nós chamamos os adultos. Muitas vezes os adultos não querem brincar, mas vieram porque queriam ajudar”, diz o garoto.

Esse efeito identificado por Matheus é exatamente o esperado. “Esse trabalho parte da concepção de identificar qual é o poder que o jovem tem de mudar o mundo. E se construir o mundo dos nossos sonhos pudesse ser rápido, divertido e sem colocar a mão no bolso?”, explica Edgard Gouveia Jr. “Assim, a gente desenha uma missão como uma gincana. Onde é que a gente já faz isso e não sabe? Onde é que o jovem já é poderoso e não percebe? A gente já faz isso desde criança. É o que estamos vendo aqui no Caubi”, explica.

Segundo Edgard, as crianças e jovens têm um poder incrível, têm tempo, energia e acreditam em um mundo melhor. Não estão cansados como os adultos já ficaram. “Então, o que a gente faz? A gente cria uma situação em que o jovem já é poderoso – a gincana. Canalizamos a energia que eles têm de fazer coisas incríveis, como fazer parte da comunidade deles de diversas formas, pintando o muro da escola deles, construindo uma creche para os irmãos”.

Edgard afirma que na gincana ninguém reclama que a missão é impossível. “Ninguém reclama das missões, sai todo mundo correndo e morrendo de rir para procurar. É uma gincana mesmo, mas é uma gincana que é uma desculpa para construir uma creche, um centro cultural, um playground. É uma desculpa para as pessoas descobrirem o poder que elas já têm”.

TRANSFORMAÇÕES RÁPIDAS E DURADOURAS

O urbanista diz que o resultado chega a ser assustador de tão rápido. “Como aqui no Caubi, eles nem tinha terminado o parquinho e já estavam brincando e pintando ao mesmo tempo. Às vezes a comunidade está esperando, está pedindo para a prefeitura faz 20 anos e é uma coisa que eles conseguem fazer em um fim de semana, sem botar a mão no bolso”, afirma.

Um dos sonhos era melhorar a qualidade do campo de futebol, que voltou a ser utilizado na hora

Isso aconteceu com o sonho de revitalizar o campo de futebol. Em poucos minutos, alguém emprestou uma roçadeira e toda o matagal deu lugar ao belo espaço para a prática esportiva.

“Por isso, as missões e desafios têm que ser tangíveis. Eles têm madeira velha, tem corda, mas não constroem o parquinho e ficam esperando aquele que a prefeitura vai trazer. Aquele parquinho não tem, mas para fazer as crianças felizes precisa pouco e isso muda tudo”.

E se o tempo passar, a grama do campo crescer e o parquinho se deteriorar, não tem problema. “Eles vão lembrar que foram eles que fizeram e que podem fazer de novo! O que é mais importante é eles lembrarem que tudo foi feito por eles mesmos em apenas dois dias, de modo divertido e com união. Essa lembrança fica”.

Moradores e jovens colocaram a mão na massa juntos

A participante da Uni Débora Picolli Araújo Santos afirma ter notado uma grande transformação, em si e nos outros. “Estou saindo daqui com a sensação muito linda de que tudo é possível, de verdade. É a sensação de que tudo é possível. Se eu quiser, eu tenho meu corpo físico e meu espírito cheio de vontade de agir, eu posso sim escolher ir por um caminho que vai além de ficar inventando mil barreiras”, afirma.

“Quando me conecto com a minha criança, com a minha verdade, eu sei o que tenho que fazer, sou capaz de fazer o que for necessário para realizar. É um sentimento muito forte. É ver o nosso poder de realização na prática”, conclui.

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