Seva: a “troco” de quê?

Utilizar seus dons e talentos sem receber uma recompensa material em troca, de forma totalmente desinteressada, a serviço de um bem maior. O que significa exatamente isso?

A prática do seva, ou serviço desinteressado, que já é comum em muitos ashrams e centros holísticos, vai além do trabalho voluntário ou da troca de mão de obra e é um grande passo na jornada pelo autoconhecimento para quem serve. De acordo com a organizadora do Seva Desk em Inkiri Piracanga, Peggy Mars, o seva é uma real oportunidade de autoconhecimento. “É um momento para colocar sua ação a serviço de forma incondicional. Esse serviço desinteressado é uma possibilidade de descobrir um mundo diferente e fazer um profundo trabalho interior, de trabalhar o próprio ego”.

O técnico em informática Raphael Rego, por exemplo, chegou em Inkiri Piracanga pela Escola de Serviço apesar de naquele momento não saber bem o que seria “servir desinteressadamente”. “Eu procurava viver um período no meio da natureza e acabei descobrindo que o seva tem muito a ver com a nossa conexão com ela. Nós fazemos as coisas de uma forma muito ‘exata’ e a natureza não é assim. Ela flui organicamente, fazendo o que tem que fazer para que tudo se desenvolva da melhor maneira possível”. 

Raphael serviu no Centro de Permacultura, na Bioconstrução e ainda doou seus dons e talentos para os serviços de Tecnologia da Informação do Centro Inkiri. Para ele, o seva é um tipo de serviço que remete à sensação da criança que brinca e aprende coisas novas. “Quando vemos uma criança brincando, ela se entrega. Não há interesse, não há espera por algo em troca e, ao mesmo tempo, ela aprende e se alegra com suas descobertas”. 

Ele afirma que praticar o seva quebra a ideia da obrigatoriedade e enraíza um profundo sentimento de conexão com o todo. “Descobri que posso apoiar, ajudar e dar minha energia para pessoas, projetos e coisas que estão acontecendo numa proporção maior do que a simples troca. Isso me leva a agir de forma espontânea e não por obrigatoriedade. Eu procurava uma conexão através da natureza e o seva enraizou esse chamado para a conexão com esse algo maior que eu buscava. E toda essa visão espiritual, que estava bloqueada na minha vida, ainda me veio como um bônus”. 

A psicóloga Barbara Thiago, também participante do Programa de Imersão da Escola de Serviço de janeiro e fevereiro deste ano conta sua experiência: “Aprendi a me doar desinteressadamente, sem a intenção de receber nada em troca e, mesmo assim, sei que estou ganhando muito. Sei que estou me trabalhando internamente. Aprendo tanto sobre o trabalho em si, sobre a função que estou exercendo no restaurante vegano quanto sobre a troca e as relações humanas”. 

Bárbara já havia feito trabalhos voluntários e percebe a diferença entre seu modo de agir antes e depois de conhecer o conceito do seva. “Para mim, fazer o seva tem uma diferença clara em relação ao trabalho voluntário: antes, eu notava um interesse individual das pessoas e achava o trabalho fácil e feito sem muita dedicação pela maioria. Pelo olhar do seva, percebi que o que via nas pessoas era apenas um reflexo do que eu mesma sou. Era um espelho que me fazia apontar e julgar os outros”, recorda. “Ao agir com um foco na espiritualidade busco dar o meu melhor para contribuir para algo maior”.

Em pouco mais de três meses ela já serviu na Plante! Inkiri, no Ateliê Inkiri, na Cozinha Inkiri e ainda pretende passar pelo Centro de Permacultura e pelo Açaí do Mar.

OPORTUNIDADE DE SE ENCONTRAR

Juliana Lavigne participa da Universidade Viva Inkiri e através da “Uni” faz seva no projeto de Comunicação de Inkiri Piracanga. Para ela, existe uma cura muito profunda acontecendo neste momento: “estou investindo numa experiência de profundo autoconhecimento, desenvolvendo maturidade. Por experiências fracassadas do passado, rejeitei totalmente a comunicação em minha vida profissional e estou aqui servindo para honrar essas experiências, mas principalmente para ressignificar essa relação com a área que em algum momento escolhi atuar”. 

“Estou pagando pela Uni e pra mim isso é uma escolha consciente: quando compro um vestido por exemplo, estou investindo no meu visual, aqui e agora estou investindo no meu bem estar, no meu amadurecimento e na minha saúde. Quero sair daqui com uma bagagem mais cheia de auto-confiança e de mais clareza sobre processos de cura e desenvolvimento pessoal”. 

A prática do Seva acontece em Inkiri Piracanga de forma voluntária para os visitantes e participantes de retiros, ou seja, caso queiram experimentar, eles podem participar. Já para alguns programas de Imersão, como Escola de Serviço, Escola da Natureza, Trabalho e Vida, a prática faz parte da programação. A ideia é que as pessoas possam ter a experiência do servir, para pouco a pouco conseguirmos colocar nossa vida a serviço do amor.


Comunidade Inkiri

Esse texto foi escrito pela Comunidade Inkiri Piracanga. Com mais de 20 projetos, nos dedicamos a transformar nossa relação com a natureza, educação, alimentação, artes e sociedade. Temos como princípios o autoconhecimento e a espiritualidade na prática. Isso inclui muito trabalho interior e na matéria. Situada na Ecovila Piracanga, na Bahia (Brasil), nossa comunidade atua para que a natureza de Amor e Verdade do Ser Humano possa ser manifestada, inspirando cerca de 2 mil visitantes que recebemos anualmente de várias partes do mundo. Saiba como nos visitar.

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