A floresta como fonte de alimento e trabalho interior

Jorge Ferreira Agrofloresta PANCs 2016 Escola da Natureza

Jorge Ferreira durante o curso de Agrofloresta em Piracanga

Ele é filho de agricultores e cresceu cuidando da terra. A infância de Jorge Ferreira, hoje com 34 anos, foi observar a mata e as plantas. No ano passado, ele esteve no Centro Inkiri Piracanga facilitando o retiro “Agrofloresta e a função ecológica do homem” ao lado da guardiã da Escola da Natureza, Inkiri Maíra Sagnori de Mattos, e trazendo práticas de agrofloresta (integração entre floresta e produção de alimentos) para nossas trilhas e matas. E em 2017 ele volta para cá para trazer mais conhecimento prático.

Jorge teve seus primeiros aprendizados de maneira muito espontânea e recebeu também muito conhecimento de seu pai no Sítio São José, em Parati, onde foi criado. Este know-how tem levado Jorge a ser considerado, cada vez mais, uma referência no universo da agrofloresta, das plantas medicinais e das PANCs (plantas alimentícias não convencionais). Uma de suas atividades inclui, por exemplo, a troca de saberes com o chef brasileiro Alex Atala, dos restaurantes D.O.M. e Dalva & Dito, que utiliza PANCs em suas criações gastronômicas.

As PANCs crescem espontaneamente em abundância na natureza… e também em Piracanga! Confira abaixo os principais trechos da entrevista com Jorge Ferreira:

O INÍCIO DA RELAÇÃO COM PIRACANGA
“Vim pela primeira vez em 2014 para acompanhar a Dani, minha companheira, que queria conhecer a Escola Inkiri. Nos dias em que estava mais livre, comecei a caminhar e fazer um mapeamento botânico de espécies comestíveis. Não sei muito bem como, mas acabei tendo a oportunidade de cozinhar no restaurante e, nos últimos dois dias, fiz saladas com as PANCs daqui. Foi super massa! Também fizemos caminhadas na floresta com algumas pessoas da Permacultura e da Bioconstrução para identificar árvores para a construção do Templo do Ser. Ficou no ar a possibilidade de voltar.”

DESAFIANDO PADRÕES
“Desta vez, encontrei desafios muito claros em vista de tudo o que já havia vivido na vida em agrofloresta. O maior deles foi que aqui não tem solo, é areia, e trabalhar em áreas assim quando talvez você já esteja engessado em um sistema de plantio é bem complexo. Precisei sair da caixinha da agrofloresta em que eu sempre vivi e trabalhei a humildade para olhar o que as pessoas daqui já tinham experimentado. Tenho muito mais tempo de agrofloresta que a Maíra, mas, nessa hora, preciso ouvi-la porque é ela quem sabe sobre Piracanga.”

Jorge Ferreira Agrofloresta PANCs 2016 Escola da Natureza 2

CUIDANDO DE PIRACANGA, TRABALHANDO FORA
“O que nos guiou foi que precisávamos fazer manejo em espécies que já se adaptaram e cresceram bem, fazer a poda. E estas podas foram de dois tipos principais: poda de frutíferas para facilitar a colheita no futuro e suspensão de copa para as árvores que podem dar madeira — neste caso, vamos podando os galhos de baixo e fazendo um processo de cicatrização com argila muito carinhoso para que a árvore fique alta, não gaste tanta energia com galhos e possa prover mais tronco. Fizemos ainda um processo de incorporação de biomassa, adubação verde, para criar solo no futuro. E plantamos também!”

CUIDANDO DE SI MESMO, TRABALHANDO DENTRO
“Foi incrível! Um dos melhores trabalhos em grupo que já fiz na minha vida. Há um ano, estou em um processo de muito trabalho interno, de assimilar meu outro lado que precisava ser reconhecido, que é o da espiritualidade. O que venho buscando é simplesmente mais conexão comigo mesmo no dia a dia. Procurei trazer isso para a prática com os participantes. Fui percebendo que não necessariamente preciso fazer tanto. Preciso reconhecer também o que já está pronto, então tentei trazer isso para que eles não ficassem almejando tanta execução e pudessem valorizar a oportunidade de estar em Piracanga nesta busca maior.”

VIRANDO CHAVES
“Sinto que teve uma chavezinha que virou no coração de cada um dos participantes. Um dos meus objetivos era que eles percebessem que, nestes dias que eles escolheram estar aqui, o tema da agrofloresta pode ter sido só um pretexto para uma grande mudança que eles podem viver como seres humanos, um renascimento. Claro que falamos sobre como se observa a agrofloresta, o que é, esse princípio da imitação da floresta, os extratos. Mas sem deixar os participantes perderem o verdadeiro fio da meada, que é a atenção ao seu sentimento interior.”

UMA PANC PIRACANGUENSE: A BATATA DA PRAIA
“Encontramos uma planta do gênero ipomoea, que é da família da batata. Talvez ‘batata praia’ seja um nome popular legal para ela. As folhas são deliciosas, mucilaginosas, carnosas, suculentas. Tem em frente, aqui, entre o rio e a praia. Hoje fizemos uma tentativa de reintroduzi-la no sistema interno de Piracanga. Fizemos um canteiro com a ‘batata da praia’ dentro da Escola Inkiri. No dia da caminhada de PANCs, coletamos várias. Dá para comer a folha em salada crua ou usar em tortas, purês, panquecas, tapiocas. Ainda não identifiquei se produz tubérculo comestível, mas essa espécie foi uma descoberta nova nesta minha vinda! Incrível!”


Confira o próximo curso com Jorge Ferreira no feriado de 7 de setembro (de 7 a 10).

Agrofloresta e a Função Ecológica do Homem

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