Por que pode ser tão desafiador ter uma alimentação vegana?

Por Vanessa Ruiz

Mesa posta para degustação às cegas de um almoço vegano em Piracanga
Mesa posta para degustação às cegas de um almoço vegano em Piracanga

Faz alguns anos que comecei minha caminhada no vegetarianismo. Deve ter sido por volta dos vinte e poucos, e foi intenso. Até este ponto da vida, nem alface eu conseguia comer porque achava muito amarga. Meu paladar era extremamente limitado. Não gostava de doces, nem de refrigerante ou cerveja, mas minhas refeições eram restritas a arroz, feijão e algo como salsicha, nugget ou carne moída. Um filé de frango de vez em quando e peixe “que não tivesse gosto de peixe”. Ah, sim, e hambúrguer. Mas a verdade é que nunca havia sido fã de carne.

Num determinado momento da vida, me deu um estalo. Se eu tinha tanta dificuldade de comer carne, por que cargas d’água não me assumir vegetariana? Essa foi minha rota dentre tantas possíveis rumo a uma alimentação sem carne.

Porém, uma vez que você adota este tipo de dieta, pode ser que venha o chamado para um próximo grande passo: cortar todos os alimentos de origem animal. E se você achava que virar vegetariana era desafiador, rá! Adotar uma alimentação vegetariana estrita —também chamada vegana, embora o veganismo em si seja uma filosofia muito maior do que somente a alimentação — pode ser bem emocionante também.

Então vamos a algumas possíveis respostas para a pergunta que dá título a este texto.

1) Porque somos viciados em laticínios.
Você pode preferir a palavra “costume”, mas, cá entre nós, ela é um eufemismo. Há estudos que falam sobre a parte física do vício em leite e queijo, mas eu percebi esse vício na prática, antes mesmo de ouvir falar de tais estudos. E somos viciados em mais de uma esfera: a emocional tem um peso e tanto. Quando pequenos, o leite da vaca vem substituir o leite da mãe em nossa alimentação. É comum o apego ao leite materno ser transferido automaticamente para o nosso querido “tetê”, a mamadeira. O leite acaba associado a amor, carinho, cuidado e isso nos acompanha vida afora, mas não é uma verdade absoluta. É possível desfazer essa conexão.

2) Porque estou acostumada a cozinhar com ovo, manteiga, leite, queijo e mel.
Tem o vício físico e emocional, mas tem também o vício-zona-de-conforto. Sempre digo que mudar a alimentação é mergulhar em uma nova cultura, é se abrir para mudar seus referenciais não só na hora de comer, mas também na hora de cozinhar. Estes aí em cima são os principais alimentos de origem animal inseridos na nossa dieta e é super possível cozinhar sem eles. Existem grupos no Facebook e canais no YouTube que podem inspirar. A Cozinha Alquimia aqui de Piracanga também é um lindo exemplo, com os cursos e retiros que ajudam a despertar nossa criatividade e energia de ação para ir atrás das novas formas (os próximos retiros serão em junho, julho, agosto, outubro e dezembro – clique nos meses para saber mais informações!).

Nham! Tá servido? =)
Nham! Tá servido? =)

3) Porque não confio nas fontes de nutriente vegetais.
“Eu não como carne, mas pelo menos eu como queijo, então não vou morrer sem proteína.” Não precisa se preocupar! Há muitas lindas fontes de proteína nos reinos vegetal e funghi. Todos os tipos de feijão, por exemplo, incluindo grão-de-bico, ervilha etc. ajudam muito neste aspecto. Gosto de ler e estudar o tema, mas não sou especialista e, por isso, não vou entrar no tema da vitamina B12, mas abro espaço aqui para recomendar as publicações do dr. Eric Slywitch, nutrólogo que ajuda tanta gente nessa caminhada e que me acompanha há uns bons cinco ou seis anos.

4) Porque não confio na adaptabilidade do meu paladar.
Aí você vai lá, lê bastante, passa com algum especialista em dieta vegana e… BUM! Entra em depressão porque não gosta de 90% das coisas que seria bom você inserir na sua alimentação. Eu sei, é triste. Lembra que eu não gostava de alface porque achava amarga? Porém, tenho uma boa notícia, também de experiência própria: nosso paladar é muito, muito adaptável. E é mais do que possível reeducá-lo para sentirmos prazer com novos sabores. Afinal, boa parte da experiência de comer no planeta Terra passa por sentir prazer e tudo bem com isso. O segredo é simplesmente se abrir para ir comendo e experimentando novas combinações.

5) Porque me sinto sozinha, isolada, antissocial, sem opção, pobre de mim =D
Meio da tarde. Fome. Você para em uma padaria para “comer um negocinho” e há 28 mil opções. Algumas levam carne. Outras levam queijo. Fim. Realmente, nem todos os lugares estão preparados para oferecer opções veganas. Por isso, às vezes é necessário adotar a tal “austeridade inteligente”, mesmo. O que nos parece mais correto não é entregue para nós numa bandeja cor de rosa o tempo todo, afinal. Talvez vá haver um dia em que você precise de fato comer apenas um pão na chapa com azeite. Ou então você vai perceber que vale a pena carregar seu próprio lanche ou oferecer seu próprio prato em um encontro com amigos. O importante aqui é que são muitas, as opções. E mais: quanto mais seguro, tranquilo e amoroso você estiver em relação a sua escolha, mais acolhimento você vai sentir chegando dos outros em sua direção. Não há guerra com quem não quer guerra. Pode confiar; experiência própria também 😉

6) Porque mexe tudo dentro.
É muito forte tomar contato com o sofrimento causado aos animais por uma alimentação não-vegana nos dias de hoje. Eu, particularmente, não consigo assistir aos vídeos e ver as fotos. Porém, sei que tem gente que precisa ver e, quando isso acontece, é quase inevitável mudar o comportamento. Trocar a alimentação mexe com nossa autoconfiança, mexe com nossos hábitos, com o que acreditávamos ser verdade. Mexe com nosso primeiro chakra, aquele que nos faz sentir que a sobrevivência está garantida. Ou seja, as bases podem tremer. Mas se a opção é consciente e por amor, você consegue atravessar o deserto e sair fortalecido do outro lado.

7) Porque esta mudança não é verdadeira para mim.
Porém, se a opção não for consciente nem amorosa, mas forçada, ela vai ruir. Você pode passar mais perrengues do que é capaz de aguentar, pode entrar em discussões mais do que consegue suportar. Ser carinhoso e amoroso consigo mesmo não é o único, mas me parece um bom caminho. Me ajudou muito confiar que, uma vez colocada a intenção de eliminar tudo o que era de origem animal da minha alimentação, o universo me ajudaria através de uma lei muito simples: a da atração. É confiar que, se a vibração do desejo é pura e verdadeira, os desafios vão aparecer, mas o amparo também. E assim tem sido.

A lista poderia se estender para muitos outros aspectos, mas esta é baseada na minha experiência pessoal. Antes de encerrar, queria ressaltar um aspecto muito prático: desde 2010, mais de uma vez a Organização das Nações Unidas, ONU, divulgou relatórios mostrando o quanto o veganismo enquanto dieta alimentar é positivo para o equilíbrio do planeta. Você pode dar uma olhadinha em uma das notícias clicando aqui.

vanessa ruiz piracanga

Vanessa Ruiz é jornalista responsável pela área de Conteúdo do Projeto de Comunicação de Piracanga, membro e responsável pela Comunicação da Escola de Leitura de Aura das Rosas, e terapeuta de Leitura de Aura.


 

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